Halo: solução ou problema?

McLaren Alonso
Fernando Alonso sofreu um acidente impressionante no GP da Austrália de 2016 e saiu ileso. O Halo realmente faria tanta diferença para o esporte a motor?

As mortes de Jules Bianchi e Justin Wilson, que ocorreram entre julho e agosto de 2015, trouxeram uma nova discussão para o esporte a motor: os pilotos precisariam de uma proteção para a cabeça? Os debates têm sido constantes e muito acalorados. Nico Hülkenberg, campeão das 24 horas de Le Mans em 2015 e piloto da Force India na Fórmula 1, é contrário à ideia. Mais ponderado, Mark Webber entende os argumentos favoráveis e contrários à adoção de um sistema de segurança para a cabeça dos pilotos, mas frisa que será necessário um tempo de adaptação para que a ideia seja aprovada.

No GP da Austrália de 2016, Fernando Alonso sofreu um acidente assustador, como bem mostra a imagem. Após três capotagens e um carro inteiramente destruído, a única dor que Alonso sentiu foi nas pernas, mas saiu caminhando tranquilamente. Se o Halo (nome da proteção de cabeça para o piloto) estivesse presente no carro, a saída de Fernando do bólido destruído seria muito mais difícil.

Justin Wilson Morre
Justin Wilson morreu em um acidente na etapa de Pocono da Fórmula Indy em 2015: a base do acidente de Wilson pode servir para qualquer caso?

A morte de Justin Wilson foi traumática não só para a Fórmula Indy, mas para o automobilismo em geral. Após ter sido acertado na cabeça por um pedaço do carro de Sage Karam, Wilson durou mais 24 horas e morreu. Desde então, sugestões de proteções para o piloto tem sido muito comuns.

A pergunta que não quer calar é: o acidente que matou Wilson pode servir de base para qualquer acidente, letal ou não? É fato: vários pilotos foram salvos por acessórios de segurança como o HANS (suporte para cabeça e pescoço), mas em casos de incêndio (em que o Halo seria um empecilho, não uma solução) ou em acidentes como o que vitimou Ayrton Senna (em que a proteção não faria diferença) o Halo não teria utilidade.

Um tema que poucas pessoas abordaram: o Halo é feito de fibra de carbono, exatamente o mesmo material utilizado na confecção dos carros. Essa fibra, ao sofrer um choque, se quebra. É praticamente impossível determinar a força com que o pedaço do carro de Sage Karam atingiu o capacete de Wilson, mas nesse caso essa proteção faria a diferença e manteria o piloto vivo? O fragmento do bólido de Karam poderia quebrar o acessório, acertando a cabeça do piloto e matando-o do mesmo jeito. Previsões à parte, fica a dúvida da necessidade deste objeto.

Poucos pilotos viram essa proteção com bons olhos: Lewis Hamilton disse que é uma “bobagem”. Nico Hülkenberg foi categórico: deixa o carro horrível. Para muitos fãs e analistas automobilísticos, sugerir  o Halo seria a mesma coisa que um fã de futebol pedisse o fim de cadarços nas chuteiras para evitar que os jogadores tropeçassem e se lesionassem.

A morte de Jules Bianchi trouxe traumas à Fórmula 1: foi o 46º piloto a falecer durante um grande prêmio após um hiato que durava 21 anos. A morte de Bianchi, porém, não foi causada por uma falha no sistema de segurança no carro, mas por conta da existência de um trator em um local inadequado. Se o trator não estivesse naquele local e naquela hora, Jules teria acertado a barreira de pneus e provavelmente estaria vivo.

Muitos pilotos sofreram acidentes muito parecidos com o de Bianchi no final da década de 2000 e saíram vivos: Lewis Hamilton (treino classificatório do GP da Alemanha de 2007) e Heikki Kovalainen (GP da Espanha de 2008) acertaram em cheio a barreira de pneus e nada sofreram. Foi o impacto sobre a pesadíssima estrutura metálica de um trator que matou Jules Bianchi, não a ausência de uma proteção para a cabeça do piloto.

Senna Death
Ayrton Senna morreu ao ser acertado na cabeça pela coluna de direção de seu Williams FW16. Nesse caso, a presença do Halo não faria diferença.

Antes de Jules Bianchi, o último piloto a morrer na Fórmula 1 fora Ayrton Senna, em 1º de maio de 1994. Como todos sabem, Senna morreu após ter a cabeça acertada pela coluna de direção de seu Williams. Ela acertou e perfurou o capacete e a cabeça do piloto, que sofreu perda de massa encefálica e morreu aproximadamente quatro horas depois do acidente.

Se o Halo existisse, Senna teria morrido do mesmo jeito. A coluna de direção não seria impedida pela proteção. Em resumo: não faria falta, e ainda prejudicaria o acesso dos médicos ao piloto que estava semimorto.

Vale lembrar que alguns dos acidentes fatais da Fórmula 1 ocorreram por conta de ferimentos na cabeça. Dando alguns exemplos, além de Senna, chegamos à François Cevert (degolado pelo guard-rail nos treinos classificatórios para o GP dos Estados Unidos de 1973), Helmuth Koinigg (morreu decapitado nos treinos classificatórios para o GP dos Estados Unidos de 1974), Mark Donohue (morto após ter a cabeça atingida por um poste nos treinos livres para o GP da Áustria de 1975), Tom Pryce (morreu logo após ser atingido por um extintor de incêndio na cabeça no GP da África do Sul de 1977) e Roland Ratzenberger (sofreu fraturas múltiplas no pescoço e na cabeça após chocar-se na curva Villeneuve em Ímola, um dia antes de Senna morrer). Foi umas das principais causas de mortes na Fórmula 1, estando muito próxima a ferimentos causados por incêndios, também muito comuns na Fórmula 1.

Pode-se dizer que Cevert e Koinigg poderiam ter sido salvos caso existisse uma peça como o Halo. Donohue, Pryce e Ratzenberger não teriam essa mesma sorte. Os dois primeiros porque a força aplicada no acessório de proteção seria altíssima, destruíria-o e certamente iria ferir o piloto. No caso de Ratzenberger, não faria diferença, pois o que matou o piloto foi o “sacolejo” do carro após o acidente.

Halo
Kimi Räikkönen e Sebastian Vettel levaram o Halo à pista: sim, o troço ficou esquisitíssimo.

A Ferrari foi a única equipe que testou o Halo nos testes de inverno, realizados em Barcelona. Kimi Räikkönen foi o primeiro a testar. Com a falta de entusiasmo de sempre, o finlandês disse que testar o equipamento foi “legal”. Sebastian Vettel também testou, mas não teceu maiores comentários.

As opiniões quanto ao Halo mostraram que poucos querem uma proteção para cabeça. Quase todos os pilotos se posicionaram de maneira contrária. A adoção desse sistema de proteção está inclusa no pacote de mudanças que a FIA traz para a Fórmula 1 em 2017. Vários pilotos disseram ser contrários. Pode ser uma boa oportunidade para que estes, tão submissos, possam demonstrar seu descontentamento com os rumos absurdos que a categoria tem tomado.

 

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